sexta-feira, 6 de abril de 2012

DIFICULDADE EM CONSEGUIR EMPREGO MESMO SENDO BEM-QUALIFICADO?

* Cristina Balerini

O mercado de trabalho, muitas vezes, é traiçoeiro para o profissional. Ser uma pessoa bem-qualificada pode se transformar em sinônimo de dificuldade para encontrar um emprego. Você certamente conhece alguém que já viveu essa situação: vasta experiência, bons cursos de especialização, pós e MBA, e emprego que é bom, nada. E às vezes não é só isso. Mudar de emprego várias vezes também prejudica a carreira, porque isso, nem sempre, significa mais preparo.

Quando as várias mudanças de emprego indicam instabilidade da pessoa, com certeza é um impeditivo para a conquista de uma nova oportunidade. A maioria das empresas tem receio em contratar pessoas instáveis, pois os custos com treinamento e adaptação do profissional são altos”, explica Regina Izabel Cadelca, consultora sênior da Catho Recolocação.

Mas isso depende da qualidade do tempo que a pessoa permaneceu na organização. Para a diretora pedagógica da Seven Idiomas, Débora Schisler, se estamos falando de um profissional que ficou de seis meses a um ano no cargo, provavelmente é uma pessoa que teve muita dificuldade em se ajustar com a metodologia ou com os procedimentos da empresa. “Se o tempo for de dois ou mais anos, e neste período tempo ele conseguiu realizar trabalhos diferentes que agregaram à empresa, isto não seria um impeditivo, pelo contrário, nos indicaria que é uma pessoa que cresce e sai em busca de novos desafios. Também indica que se sua empresa não puder proporcionar crescimento para ele, provavelmente ficará um tempo e sairá também”, avalia.

O profissional muito especializado ou qualificado, acredita Regina, encontra dificuldades no mercado porque precisa encontrar uma empresa que valorize este fator, pois em estruturas que não valorizam a alta qualificação, o perfil do candidato à vaga pode ser uma ameaça a quem está na empresa. “Principalmente se comparado com quem for seu futuro superior”, comenta ela. Vale lembrar que o alto salário exigido por um profissional bem-qualificado é outro fator impeditivo. Uma organização sempre busca contratar talentos, mas tudo dentro da sinergia da empresa, ou seja, obedecendo sua estrutura, cultura e histórico.

O problema, para esses profissionais, é que, devido às dificuldades que encontram para voltarem ao mercado, muitas vezes se vêem obrigados a aceitar salários menores com receio de prejudicarem sua imagem caso fiquem muito tempo desempregados. Quantos casos não se conhece de pessoas em posição de destaque que, ao perderem um emprego, buscam manter o salário que tinham quando estavam empregadas mas que, depois de alguns meses, cansadas da árdua rotina de procurar emprego, acabam aceitando uma oferta menor só para não ficarem paradas?

E não é só o salário menor que dificulta sua entrada novamente no mercado. Outro ponto, diz Débora, é a questão da subordinação. “Geralmente, um profissional qualificado sai de posições-chave numa empresa e, nem sempre, pelo menos na área de idiomas, consegue se recolocar nestas posições. É difícil este profissional que já teve o gosto do comando aceitar ser subordinado”.

O que as empresas alegam é não possuírem uma política agressiva de remuneração e premiação. “Também alegam receio de gerar um clima de desconforto interno, por contratarem um profissional com MBA, por exemplo, sendo que os profissionais mais antigos não o possuem”, avalia Juliana Zuccarello, consultora do Grupo Catho.

Hoje, do jeito que está o mercado, acredita Débora, da Seven, é muito difícil uma pessoa com excelente currículo conseguir uma posição e salário igual ou melhor, porque isto custa, a não ser que a empresa tenha um plano estratégico e use esta contratação como investimento. Outra razão é que um super currículo não é necessário. “Muitas vezes, para uma escola de idiomas, ou mesmo um colégio, por exemplo, ter um doutorado é demais. O profissional acaba ficando frustrado porque não terá o retorno esperado”.


O que fazer?

Antes de encaminhar seu currículo, orienta Juliana, realize uma pesquisa na Internet e entenda a empresa: se adota políticas estruturadas de remuneração; investe pesado em treinamento e desenvolvimento; dá oportunidade para trabalhar no exterior, entre outros. “A partir daí é possível desenvolver o conteúdo do currículo, alinhando-o ao perfil da organização. Por exemplo: uma empresa com agressiva política de remuneração busca profissionais ambiciosos, que demonstram resultados e contribuições para o crescimento da organização e que tiveram ascensão de cargo. Busque estas características em sua carreira para se vender”.

Mas o profissional desempregado, muitas vezes, tende a aceitar um emprego de menor responsabilidade e importância só para não ficar fora do mercado. “E não aceitam apenas para voltarem ao mercado, mas porque têm noção da realidade, pois muitos profissionais, ao perderem seus empregos, sabem que estavam com o salário acima da média de mercado ou que estavam muito bem-assistidos com benefícios, então passam a rever este fato para enquadrar-se à atual situação. Quando o profissional está sem trabalho, precisa estar bem sintonizado com a realidade de mercado para evitar longo período de desemprego”.

Para Débora, antes de aceitarem um salário menor esses profissionais procuram atuar como autônomos ou abrir um pequeno negócio. “Conheço uma pessoa que reingressou na vida acadêmica junto com o emprego novo que paga menos. Fica claro que ela está esperando o momento para dar um salto de qualidade assim que estiver capacitada na nova área. Também conheço outro profissional que aceitou o salário menor enquanto procurava alternativas melhores. Assim que conseguiu abrir seu negócio, pulou fora”.

Diante de um quadro muitas vezes desanimador, a primeira coisa que o profissional pensa é em para que gastar dinheiro e tempo com vários cursos se depois não há vaga para ele. “Sempre é válido buscar o aperfeiçoamento, pois isso sempre contribui positivamente para o crescimento profissional e pessoal. Nunca se pode esquecer que o mercado competitivo exige aprimoramentos, idiomas e competências comprovadas”, diz Regina.

E Débora concorda com ela: “acho difícil uma pessoa não conseguir uma vaga melhor no mercado com uma pós ou MBA. Esses cursos abrem muitas portas se a pessoa souber fazer um bom marketing de relacionamento e um ótimo marketing pessoal. Muitas vezes os profissionais têm dificuldades pessoais que limitam estas possibilidades de contratação, como expectativas irreais ou falta de jogo de cintura, o que dificulta sua recolocação”.

Regina também sugere, para aqueles que se encontram nesta situação, estarem abertos para mudanças quanto a nomenclaturas de cargos, vínculos empregatícios e salários fixos. “As escolas, por exemplo, estão tentando se equilibrar financeiramente e se manter saudáveis. Para que isto aconteça, muitas estão se reestruturando das mais variadas formas. Acredito que nesta fase há uma sobrecarga de trabalho para todos, até que tudo se encaixe. De fato muitas escolas não estão conseguindo repassar aumentos para o cliente, e com isto acabam cortando benefícios, demitindo funcionários caros e contratando funcionários mais baratos ou mudando políticas para se equilibrarem. Algumas empresas, como a Seven, estão implantando uma política de salário fixo + salário variável, que resulta em aumento de salário para aqueles que mostrarem resultado”, comenta Débora.


Para encerrar, Débora dá algumas dicas para que o profissional encontre algumas alternativas. “Uma vez fui apresentada à equação da felicidade empresarial por um membro do PENSA (Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial da FIA/FEA-USP) que se encontra publicado em um de seus livros. Era assim:


Vendas ($) = f (*PEST; concorrentes;**produtos; comunicações; canais de distribuição; força de vendas; preços)

*Azul= fatores incontroláveis (PEST - P=político-legais, E=econômicos-naturais, S=socioculturais e T=tecnológicos)
**Vermelho= fatores controláveis

Se traçarmos um paralelo, acho que vale o profissional analisar muito bem os fatores incontroláveis no mundo ao seu redor para perceber o que ele enfrenta e pensar alternativas.
Exemplo:
a) concorrentes: que qualificações educacionais eles têm? Com isto ele pode traçar um plano de ação para concorrer com igualdade;
b) pensando o PEST: que esquemas legais posso propor ou usar para que me contratem (ser autônomo, abrir uma microempresa, ganhar mais benefícios e salário mais baixo?); tecnológicos: que tecnologias a minha área usa? O quão atualizado estou? O que preciso fazer para me encaixar tecnologicamente nas empresas que busco ?

Se pensar os fatores controláveis, como por exemplo, produto: o que tenho para oferecer. Aí vale a pena pensar quais são minhas forças e fraquezas para decidir como me reciclar ou me recapacitar.
Comunicação: pensar em como me apresento - desde meu currículo até meu vestir, meu falar verbal e não-verbal.
Canais de distribuição: como fazer meu marketing de relacionamento.
Força de vendas: como fazer meu marketing pessoal.
Preço: cuidar para não se sobrevalorizar, nem se subvalorizar. NEGOCIAR”



*Cristina Balerinié jornalista do Grupo Catho. Tel.: (11) 3177-0700, ramal 296.

Fonte:DIFICULDADE EM ARRUMAR EMPREGO MESMO SENDO BEM-QUALIFICADO? – Especial - Jornal Carreira e Sucesso

site da fonte: http://www.catho.com.br/jcs/inputer_view.phtml?id=6699

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